Era uma vez uma menina.
Não, era uma vez uma galinha.
Não, péra! Era uma vez uma boneca.
Mas não tinha boneca...
Ai, vamos começar tudo de novo.
Era uma vez uma boneca que não tinha uma galinha e brincava
com uma menina.
Nããããão!!! Não é isso!!!
Ah, eu vou contar a história, depois a gente resolve!
Gigi era uma menina muito, muito, muito, linda! Eu já disse
linda? Inteligente, fofa, carinhosa, falava 4 línguas, tá bom, mentira, era só
fofa, inteligente e carinhosa! Eu já falei linda né?
Ela era a caçula de sua casa, era a última dos seis irmãos.
Segundo a meritocracia (vamos ver o que é isso nos textos da
Tequila com Política nas quintas! ), seus pais não deviam ter se esforçado o
suficiente ainda, porque apesar de seu pai trabalhar todos os dias da semana,
fazer reuniões de comunidade a noite e nos finais de semana ainda ir ajudar nas
obras da Igreja (de graça) e sua mãe ser enfermeira e dar plantão fins de
semana, feriado e dia santo, a família de Gigi não vivia uma vida muito
luxuosa.
Por conta disso, Gigi, ainda pequena, não tinha nenhuma
boneca. (Não chorem, porque ela nunca tinha visto uma boneca, então não sentia
falta!)
Mas eu acho que esse lance de boneca deve ser algo
instintivo, porque mesmo sem saber o que era, ela queria alguma coisinha pra
poder abraçar e fazer carinhos de mamãe-filhinha!
A mãe de Gigi criava galinhas. Na verdade ela “hospedava”
galinhas, pois não tinha tempo nem pros filhos, imagina pra pobres das
galinhas...
Então, várias vezes o almoço na casa da linda Gigi, era
galinha!
Vou contar como se processava a coisa: a irmã mais velha de
Gigi, diferença de 10 anos para ela, pedia para algum vizinho matar a galinha
torcendo o pescoço dela, pois ela não tinha coragem de matar a bichinha. Depois
de morta, a galinha era colocada numa água quente para ser depenada. A água
quente amolece alguma coisa que eu sei lá o que é, mas aí você vai puxando as
penas e elas vão saindo bem facilmente.
Ocorre que ficam umas penugens que não saem puxando. Aí você
acende o fogão, segura a galinha e deixa encostar só essas penugens no fogo, ele queima elas e pronto, a galinha
é considerada limpa e pronta para dar andamento no processo.
Depois que a irmã de Gigi fazia essa parte de queimar as
penugens, ela deixava a galinha deitada em cima da tábua de cortar carne (nesse
caso, de cortar galinha!), em cima da mesa da cozinha, para ela esfriar e então
continuar os procedimentos.
Um belo dia, a linda e inteligente e fofa e carinhosa Gigi
foi para a cozinha e se deparou com aquela cena: Um brinquedinho lindo
descansando em cima da mesa!
Foi amor à primeira vista!! Gigi correu em direção à
galinha,(a galinha não correu em direção à Gigi, mas isso era esperado) colocou-a
nos braços como se ela fosse um bebê e correu para o quarto! (quarto de seus
irmãos, pois ela ainda dormia no quarto dos pais, então a cama utilizada na
brincadeira era a de seu irmão, um que hoje trabalha no TCU...)
Gigi deitou sua amiguinha na cama e a abraçou tanto, tanto,
tanto, que a pobre da galinha nem respirava! Na verdade ela já não respirava
mais mesmo, mas se respirasse logo, logo, ia parar, sufocada com tantos
abraços!
Ela pegava embaixo das asinhas dela e cantava uma musiquinha
para a amiga, que ela fazia dançar, pezinho após pezinho, rebolando ao ritmo da
canção.
Ufa! A amiguinha estava cansada, era hora de dormir! Então
Gigi deitava a galinha, exausta de brincar, na cama e a cobria com o lençol,
deixando os bracinhos dela (asas) pra fora dele, igual como Gigi dormia. Aí ela
começava a cantar as canções de ninar que ela conhecia. Ela só conhecia uma,
que era o Hino do Botafogo! Porque quem costumava fazer Gigi dormir era seu
irmão, uns 17 anos mais velho que ela e torcedor fanático do Botafogo!
- Botafogo, Botafogo campeão desde 1910!! (Gigi é Vascaína,
mas sabe o hino do Glorioso inteirinho até hoje!)
De repente veio o grito!
- Cadê a galinha daqui? Era a irmã de Gigi. Algo lhe dizia que
ela seria repreendida, então ela pegou a galinha e ficou espiando. Quando a
irmã saiu da cozinha ela correu e colocou a amiguinha em cima da tábua
novamente, deu um beijo de despedida na colega e saiu correndo!
Pronto, agora ela já sabia onde ficava a fábrica de
brinquedos! E essa história se repetiu inúmeras vezes, até o dia que seu pai
pode lhe dar uma boneca.
Como foi feliz a infância de Gigi! Só uma pessoa muito rica
teria uma boneca nova umas duas vezes por semana!! E mais, nem dava tempo de
enjoar do brinquedo!!
Hoje Gigi não come galinha, afinal, quem em sã consciência
comeria uma boneca??
Era uma vez uma boneca, que não existia, de uma menina que
brincava com galinhas!
Essa história não é minha! Meu apelido não era Gigi, meu pai
não era líder de comunidade, minha mãe não era enfermeira, meu irmão mais velho
não torce pelo Botafogo e o meu irmão mais novo não trabalha no TCU!!
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