quinta-feira, 17 de novembro de 2016

De qual lado você está? O colonizador agora é outro...

Coloque o sal na boca!

No Brasil temos uma discussão recorrente entre dois lados: Esquerda e Direita!

Um dia minha filha me disse:
- Mãe, a única coisa que entendo sobre isso é que direita é a mão que eu escrevo e esquerda é a outra!

Ela é destra!

Bem, os franceses nos brindaram não apenas com suas belas canções, mas também com as ideologias de esquerda e direita, quando a burguesia tentava reduzir os poderes da nobreza e do clero, e tiveram o apoio da população mais pobre.

Quando aconteciam as assembleias, os ricos não gostavam de “se misturar” e sentavam separados, ao lado direito. Ficando assim, o lado esquerdo associado aos trabalhadores e suas lutas e o lado direito à elite conservadora.

LIBERTÉ!

FRATERNITÉ!

EGALITÉ???? Sei não... Senta mais pra lá!

Dessa forma, as lutas em prol das classes trabalhadoras e da coletividade ficaram associadas à esquerda e a manutenção do conservadorismo e das conquistas individuais ligadas à direita.

Quando analisamos o cenário brasileiro, não apenas o atual, mas o que nos acompanha há longos anos, a pergunta que nos fazemos sobre nossos políticos, sobre homens e mulheres, (ainda poucas, mas representativas), que definem a direção de nosso país, é a seguinte: Eles são de Esquerda ou de Direita?

Será que realmente essa pergunta tem a capacidade de nos dizer que rumo tomará nosso país a partir de sua resposta?

O escritor, historiador, político, etc, etc  e saudoso Barbosa Lima Sobrinho, falecido em 2000, indagava, e infelizmente, parece que como “A Voz do Brasil”, falou sozinho, sem ter o devido eco, sobre o que realmente deveríamos nos questionar.

Para ele, a verdadeira separação que deveríamos fazer entre homens e mulheres que nos representam não devia ser entre Direita e Esquerda, mas sim entre Nacionalistas e Entreguistas!

Parece mais uma possível teoria de conspiração de 1930! Mas ele tem suas razões e certamente sua fundamentação.

Se observarmos a situação atual com cautela, veremos que estamos diante, mais uma vez de outros colonizadores, ou pior, novos exploradores, tentando levar nossas riquezas sob um novo tratado de Panos e Vinhos!

Se todos que estão no Congresso Nacional, só querem o bem da nação, como devo separar o joio do trigo?

Afinal, qual político me representa? 
O que senta do lado esquerdo da tribuna e assina a exploração das riquezas do país por empresas internacionais ou o que se nega a abrir o mercado interno para o capital estrangeiro, sendo que temos empresas nacionais com capacidade para tal exploração, independente de onde ele está sentado?

O inimigo é outro.

Enquanto nos preocupamos com os Comunistas que estão doutrinando os pobrezinhos dos estudantes a ocuparem escolas, nossos representantes estão rifando o Brasil! 
Leiloando de uma maneira que nem o vidente Raul Seixas conseguiu prever em suas viagens mais psicodélicas!

É tudo free!!

Estão estregando o patrimônio! 

Sempre foi assim! 

A cachorrada está latindo! 

Mordendo uma meia dúzia de crianças que resistem ocupando escolas e universidades e a cavalaria continua passando!! 

Tá vendendo! 

Tá entregando!

Acorda Direita! 

Acorda Esquerda!

Senta onde você quiser!

Use a cor que você quiser! Use a camisa vermelha ou a camisa da CBF!

Passe férias em Orlando ou em Cuba!

Use chapinha ou assuma os cachos!

Nosso país está em risco! Faz tempo que estão nos dividindo!

Convido-os a fazer um tour pela história do Brasil. Estude e veja as famílias envolvidas nos casos de entrega do patrimônio, afirmo que reconhecerão diversos sobrenomes, desses que vemos até hoje nas eleições brasileiras.

Chupe o limão!

O texto de hoje tem licença poética para homenagear Barbosa de Lima Sobrinho.


O homem que só a morte conseguiu calar!

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Duas quintas sem Tequila e sem Política

Peço desculpa aos seguidores, mas por problemas de saúde não tivemos o Tequila com Política essas duas últimas semanas. 
Felizmente a Política Internacional está bombando e assunto é o que mais tem por aí pelas redes sociais...
Prometo que semana que vem estaremos de volta aqui no nosso espaço, com muitas novidades.
Obrigada pelo compreensão e enquanto isso fiquem com o circo internacional!
Gratidão!

domingo, 30 de outubro de 2016

A fantasia de Halloween

Era final de Outubro, sexta-feira. E eu ia tirar o gesso do pé após 8 dias de castigo.
Eu simplesmente adoro Halloween. Desde a adolescência. Amo me fantasiar.

E avisei o namorido:
- Amanhã tiro o gesso e quero ir numa festa de Halloween.
Ele, sempre parceiro, concordou.

Seria a minha estréia de Catrina. Já tinha visto a maquiagem na internet ( sem a pasta branca ). Lido toda a história. Separado um vestido. Comprado uma flor para o cabelo. Estava tudo no esquema.

Chega o sábado, mas o namorido vem conversar comigo e me diz que era aniversário de um amigo dele. Um grande amigo na verdade. E ia ter um jantar a noite no apartamento do amigo.

Eu já dei uma murchada quando ele me falou... Era o fim da minha festa de Halloween.
Então eu perguntei, - Você quer ir?
- Eu gostaria, mas sei o quanto você quer sair hoje, então prefiro sair com você.

Achei muito gentil da parte dele, mas ao mesmo tempo fiquei triste, porque era seu amigo, mas era opção dele, então o dia seguiu.

No final da tarde, toca o telefone. Era o aniversariante.
O namorido segurando o telefone me dizia assim:
- É o meu amigo. Ele diz que faz questão de nossa presença. Que estarão somente a família e os amigos mais próximos, e eu sou um desses amigos. E agora?
- Pergunte a ele se eu posso ir fantasiada.
- A Giana está perguntando se pode ir fantasiada.
O amigo riu do outro lado da linha.
- Ele está dizendo que você será a única pessoa fantasiada no evento!
- Não foi isso que perguntei! Pengunte se EU posso ir fantasiada!
- Mas ela ta perguntando se ELA pode ir fantasiada?
- Ele disse que pode!
- Então fala pra ele confirmar nossa presença que nós iremos!

Pronto! Ficou todo mundo feliz! Mas na verdade ninguém me levou muito a sério, nem o namorido, nem o amigo, só eu mesma sabia o quanto estava falando sério.

- Podemos ir para o niver do seu amigo e depois procurar uma festa de Halloween?
- Sim, claro!
- Beleza!

Chegou a hora da arrumação. Como de costume, fui primeiro, devido o tempo gasto com cabelo e maquiagem. Tomei banho e comecei a maquiagem, que nesse dia, incluía uma toda especial: face de Catrina!
O namorido foi tomar banho.
Eu comecei a maquiagem. Fiquei a cara da morte!!!
Ele saiu do banho. Secando-se lentamente, quando de repente me viu!

Ficou paralisado!!
- Você não gostou?
- Não, você está linda!
- Posso ir assim?
- Você quer ir assim?
- Eu quero.
- Então vá!
Continuei me arrumando e ele se secando.
Achei que eu poderia estar sendo egoísta e um pouco antes de sair, cheguei perto dele e perguntei.
- Você se incomoda de eu ir assim?
- Você está feliz em ir assim?
- Eu estou. Mas você não se incomoda?
- Eu não! E se você está feliz, eu estou feliz também!
Completei o look com um vestido preto, uma flor vermelha no cabelo e luvas roxas!
E lá fomos nós para a festa!

Chegando lá o amigo abriu a porta e ficou chocado com a minha figura!
- Era sério??? Ela veio fantasiada mesmo!!
Ele começou a rir.
- E todo mundo que me cumprimentava ficava espantado com a minha fantasia e muito mais com a minha audácia...
O grande detalhe é que o amigo, ao qual não revelo o nome, porque não pedi autorização, é doutor em sei lá o quê então o rol de amizades é de vários outros doutores de Universidades de Brasília, Santa Catarina e do Paraná. Ou seja, a probabilidade de ter alguém fantasiado em algum aniversário dele era zero, mesmo sendo um dia de Halloween.

Eles estranhavam bastante, uma pessoa até tentou me hostilizar e com olhar de desdém disse assim:
- Qual a sua formação?
Eu poderia simplesmente ter respondido, mas eu era Catrina, a Rainha dos Mortos!! Então perguntei:
- Quando? Antes ou depois de morta?
E todos riram, e eu ri. E o namorido riu. E foi uma noite muito, muito divertida.

Depois saímos de lá e fomos afinal procurar uma festa de Halloween de verdade onde haviam outras pessoas fantasiadas também.Vivos e Mortos!

Namorido me disse que na semana seguinte, teve uma reunião com seus amigos, e minha atitude foi o assunto da noite. Que seu amigo elogiou minha coragem de ir sozinha e encarar todos os presentes com segurança. Ele ficou muito surpreso comigo e com minha coragem.

O que ficou de lição?

Lição número UM: É muito difícil ser diferente num mundo de iguais! Mas depois que você consegue, você encara qualquer parada!!

Lição número DOIS: Beijo na boca é bom! Sexo é bom! Andar de mãos dadas é bom! Mas a aceitação incondicional do outro, se alguém ainda não definiu isso como AMOR, tá faltando filósofo nesse mundo!!

Meu namorido é a pessoa mais generosa que já conheci! Não sei se seria capaz de fazer por ele o que ele faz por mim! Mas em minhas preces era o que eu gostaria de ser para alguém! uma parceira de verdade!!

Na vida e na morte!!

.
Eu posso até não parecer normal, mas na verdade eu não abro mão de fazer o que me deixa feliz e por sorte, encontrei alguém que me entende e fica ao meu lado. E se isso é ser louca, então sou louca e achei um louco para ser o meu par!





quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Os dois lados da ocupação

Coloque o sal na boca!

Precisamos falar de ocupação (Pela PEC 241)

Nossas crianças ocupam as escolas. 
Sim, são crianças ocupando as escolas. Protestando contra uma PEC que tirará os investimentos em educação por 20 anos.

Nossos adolescentes brigam para poderem estudar nas escolas ocupadas. Estamos a duas semanas do Enem. 

Eles estão há quase um ano (ou mais) se preparando. Faltam apenas duas semanas. Estavam correndo contra o tempo! 
Professores dão aula nos jardins. Alunos sentam no chão!

O que a mídia faz?

Coloca nossas crianças contra os adolescentes e vice versa.

“Não se trata de seu semestre, trata-se de 20 anos sem investimentos em Educação!”

Ei, estamos do mesmo lado!!!

Pode ser a última oportunidade de muitos deles de entrar em uma faculdade pública, afinal, estamos falando de 20 anos sem investimentos em educação... Será que ainda teremos faculdades públicas?

E sabe os concorrentes deles, que estudam em escolas particulares? Estes continuam tendo aula. 
Aquela vantagem competitiva que tiveram a vida inteira, no final do campeonato ainda se faz presente e agora com mais força! 
As escolas particulares não estão ocupadas. Eles continuam estudando.

E sabe a PEC da ocupação? Já foi votada em segundo turno. E foi aprovada! E já foi encaminhada para o Senado. Mesmo com as escolas ocupadas.

No dia da votação do segundo turno também teve manifestação na Câmara e manifestantes gritavam palavras de ordem.
Sabe o que fizeram? Tiraram.

Será que estamos realmente incomodando? Ou estamos sendo somente mais uma vez massa de manobra e atacando os nossos?

Apoio integralmente as crianças em sua ocupação.
Apoio os adolescentes que precisam estudar.
Ambos estão vendo o futuro escorrendo entre os seus dedos enquanto sua esperança é servida em jantares pagos com dinheiro público pautado no argumento de que precisamos cortar gastos.

E nossa juventude, aqueles que afinal conseguiram se formar em uma faculdade e hoje fazem parte do mercado de trabalho, onde estão? 
Onde eu estou? 
De que forma me manifesto?

Nando Reis pergunta, pela voz rouca de Cássia Eller se ¹“o mundo está ao contrário e ninguém reparou...”

Enquanto isso, Cazuza se lastima, vendo ²“que aquele garoto que ia mudar o mundo agora assiste a ‘The walking dead’ de cima do muro”.

Por favor, não coloquem a culpa na vítima! O jovem que quer estudar para fazer o Enem não é o culpado!

Duas semanas de preparação não mudarão o resultado do Enem, mas conseguem imaginar como isso afetará o emocional de um adolescente que se prepara para um
 exame?
Não deixem que a mídia nos manipule.

A PEC já foi encaminhada para o Senado. Se há um lugar que também merece ser ocupado, fica a dica.

Vamos seguir o exemplo de nossas crianças. A coragem delas. E usar toda a nossa indignação com quem realmente a merece!

O inimigo é outro!!!

E vocês Deputados e Senadores preparem-se, porque essas “crianças” em 2018 serão eleitores e a ocupação de hoje talvez não surta o efeito imediato nos rumos da política atual, mas certamente, meninos e meninas que agora passam por essa experiência de cidadania, não serão mais os mesmos e não esquecerão facilmente tudo o que viveram nesses dias em nome da manutenção de direitos e de um futuro digno para eles e para toda uma geração.

Chupem esse limão!

¹ Trecho da música Relicário, composição de Nando Reis interpretada por Cássia Eller.


² Trecho da música Ideologia (com pequena adaptação de minha autoria), composição e interpretação do poeta Cazuza, que não creio que tenha ido ao inferno, mas ainda não voltou.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Reforma da Previdência


Hoje é Quinta!

Coloque o sal na boca!

Teremos em breve mais uma reforma que deverá ser encaminhada para votação: a Reforma da Previdência.

As perspectivas não são das melhores. Existe um rombo que só aumenta. E quando se fala em “rombo”, não se trata exclusivamente  de desvios de recursos ou má gestão do dinheiro.

Este déficit também é resultado de fatos positivos, como a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros, o que afetou diretamente sua expectativa de vida, criando um descasamento entre a quantidade de novos contribuintes e a quantidade de novos beneficiários.

Outro fator que vem contribuindo para o aumento desde descasamento é o crescimento  da informalidade, o que reduz os contribuintes ativos, dificultando ainda mais o sustento do fundo.

Passarei rapidamente sobre o fato de termos nos fundos de Previdência pensões altíssimas, como no caso de militares, que desenquadram completamente do teto estipulado para a maioria das pensões pagas hoje.

O que ocorre é que as reformas propostas pelo Governo, não pretendem rever essas disparidades de algumas aposentadorias de militares que chegam a valores em torno de R$ 70.000,00 mensais, enquanto grande parte da população se digladia em torno de um salário mínimo.( O por quê eu não sei...)

Outro item que será revisto é o caso dos benefícios assistenciais para deficientes, que segundo o texto da proposta do Governo, por seus beneficiários nunca terem contribuído, é considerado injusto com os outros beneficiários que contribuem.

Bem, utilizando novamente como exemplo os militares, as filhas mulheres de militares que não casarem contam com pensão vitalícia do pai, o que segundo me explicou um militar, “na ausência de um outro homem para cuidar dela, o Estado fará esse papel.”

Isso não será revisto. Não deve ter sido considerado injusto pelo Governo. ( Mas as filhas de militares fornicam e tem filhos, só não casam no papel, o por quê eu também não sei...)

Além das mudanças citadas aqui, temos a igualdade de idade de aposentadoria entre homens e mulheres, o aumento do tempo mínimo de contribuição, o aumento da idade mínima de aposentadoria e outros.

Não quero aqui criar polêmica em relação aos militares. Quem quis foi quem criou tantos benefícios para eles...

Quando a proposta for realmente apresentada, poderemos voltar a falar item a item. O intuito aqui é outro.

Escolhemos como tema uma proposta ainda não terminada para servir de reflexão pela complexidade do tema, pois engloba questões que infelizmente não vemos no debate público.

Nosso país nos últimos 15 anos melhorou as condições de vida de sua população.

Temos hoje uma taxa de natalidade extremamente controlada com uma média de 1 a 2 filhos por família (Dados do IBGE)

Em uns 20 anos nosso país se tornará um país velho, como aconteceu com o Japão. Com um pequeno, mas importante detalhe: o japonês POUPA. Nós NÃO!

Com uma população ativa infinitamente menor à população aposentada, a pirâmide previdenciária ficará invertida e não terá como se sustentar.

Mesmo aprovando todas as propostas que o Governo pretende, se não houver uma revisão das pensões militares e não se fizer uma análise atuarial autossustentável da previdência, que siga talvez os moldes dos planos privados, (posso até estar sendo imprudente),  o futuro diante dessa perspectiva de inversão que se constrói, promete ser tenebroso.

É necessário medidas imediatas e que atinjam principalmente aos que afetam as estruturas financeiras da Previdência Social, o que hoje não é representado pelos muitos beneficiários de um salário mínimo, mas pelos poucos, que concentram grandes valores.

Com esse desequilíbrio nas contas da Previdência, devemos ter consciência que o nosso futuro é uma responsabilidade que vai além do Governo Federal. 

É necessário que ele faça a parte dele em uma reforma que equilibre essas disparidades de valores e enquadramentos de benefícios, mas a nós, diante da perspectiva de futuro que se vislumbra, cabe uma mudança de atitude, com planejamento, economia e uma fuga dessa roda desesperada de consumo que tentam nos colocar diariamente. 

Ou então vamos fazer filho, pra poder sustentar nossa velhice, porque do jeito que tá, podem reformar, implodir, construir de novo, que não vai ter jeito!

O Governo arruma a casa dele! A gente cobra e acompanha! Mas devemos também arrumar a nossa!

Pode chupar o limão!


sábado, 15 de outubro de 2016

As muitas faces de Dalva


Eu estava na primeira série do ensino fundamental.
Tinha 7 anos.

Pense num terror. Era uma escola pública. Uma turma mista de meninos e meninas, e naquela época, não sei por que cargas d’agua, os meninos achavam que podiam subjugar as meninas. Pensavam ser superiores. Tratavam as meninas com desrespeito. Era uma outra época...

Sei que hoje não é mais comum, não se vê mais isso em nossa sociedade, mas na minha infância, isso era algo acontecia. Existiam coisas assombrosas, homens ganhavam salários maiores que as mulheres, havia uma tal cultura do estupro, e muitas coisas que hoje sequer ouvimos falar! Graças a deus...

Dentro da sala de aula, na presença da professora, os meninos ficavam quietinhos no mundo deles. Mas na hora do recreio, sem a presença de algum adulto para supervisionar-nos, eles tocavam o terror sobre as meninas.

Eram os 30 minutos mais infernais da minha vida. Pareciam uma eternidade. Deve ter sido baseado num recreio desses que Einstein começou a desenvolver a Teoria da relatividade...

Para buscar defender-nos, as meninas tentavam sempre formar pequenos grupos e ficar juntas na hora do intervalo, afinal nem imaginávamos o que poderia acontecer se algum menino nos encontrasse sozinha.

Na minha classe tinha um menino que era filho do pastor da Igreja Assembléia de Deus e ele dizia ser apaixonado por mim. A mãe dele trabalhava em um pequeno supermercado, então todos os dias ele me dava uma caixa de chicletes e outra de uma goma de mascar. Ele, sendo apaixonado por mim, como o próprio se dizia, tinha como forma de demonstração desse amor, correr atrás de mim na hora do recreio para me bater! Já pensou se eu caso???

Uma, das inúmeras vezes que eu estava correndo dele, eu cai e me ralei da cabeça ao pés! E a única coisa que eu conseguia pensar era: Se um dia eu tiver uma filha, eu nunca vou colocar ela na escola!! Nunca vou! Nunca ! Nunca!

Eu tinha pesadelos com aquele menino! Sonhava que ele era filho do Lúcifer! É sério! Eu detestava ele e até hoje recuso chicletes quando me oferecem. Digo que me dão dor de cabeça.  (Se alguém que me conhece, e já tiver me oferecido chicletes, vai se recordar)

Bem, já estávamos quase no final do primeiro bimestre quando ELA chegou! Uma menina chamada Dalva.

Veio transferida de outra escola. Ela era repetente.

O que chocou a todos é que ela era careca! Todas as meninas usavam saia e tinham cabelo comprido. Dalva também usava saias, mas seu cabelo, apesar de já estar começando a crescer, ainda era muito baixinho.
Soubemos que sua mãe, uma mulher muito brava, raspou sua cabeça por ela ter repetido de ano.

Dalva era diferente das outras meninas. Não só pela cabeça raspada. Eu morava em Santana no Amapá, nosso tom de pele era moreno, mas Dalva tinha uma pele bem clara, só que estava grossa, queimada de sol. Era porque ela trabalhava na roça com sua família. Ela tinha olhos azuis e cabelos bem claros. Mas suas feições eram endurecidas, brutas. Ela tinha o corpo todo musculoso (trabalhava carregando peso) e parecia muito mais velha do que a idade que tinha. Acredito que ela deveria ter, pela série escolar, uns 8 anos, mas aparentava ter uns 14.

Ela sentou perto das meninas e nos contou suas histórias. Da roça onde trabalhava com a família, das surras diárias que levava da mãe. Do tio com problemas mentais. Do pai que não conheceu e da vó, que era a chefe da casa.

Até que tocou o maldito sinal. Aquele que abria as portas do inferno. E fomos todas para o nosso martírio diário.

Naquele dia tínhamos mais uma vítima entre nós: A Dalva. Um prato cheio para os misóginos de plantão! 
Eles adoravam observar nossas fraquezas, nossas vulnerabilidades e ter um ponto no qual se apegar para nos atingir!

Ei magrela! Ei cabelo de Bombril! Ei preta do Codó! Ei Assombração! Ei putinha escrota!

Era o dia da estreia da Dalva.
Nós todas sabíamos disso. Menos ela.

E nosso coração estava apertado. A gente sabia o quanto aquela menina já era sofrida. O quanto a vida já a castigava. O quanto a mãe, a quem a gente corria no final do dia e sempre encontrava amparo, no caso da Dalva,  também representava uma agressão.
E quantos pontos vulneráveis ela tinha! Ela seria um prato cheio para eles!

Minhas mãos estão geladas de lembrar a tensão que senti naquele momento. E eu e as outras meninas nos olhávamos num misto de cumplicidade e desespero. E Dalva falava sorridente conosco, afinal ela estava sentindo-se acolhida e hoje, adulta, percebo que ela talvez, na sua jovem vida, nunca tivesse se sentido assim antes.

E o grupo de meninos se aproximava.
O menino mais violento vinha na frente. E o filho de Lúcifer ao seu lado. Ele sempre andava à direita do pai... E os demais meninos distribuídos ao redor deles.

Novamente vi uma demonstração presente da Teoria da Relatividade. Deve ter se passado umas três luas até a chegada do grupo de meninos...

Dalva continuava falando animadamente, mas ninguém conseguia ouvir  a sua voz. 
Até que sua fala foi interrompida por uma voz que nos era tão familiar e muito, muito assustadora.
- O que é que tu tá falando aí, mulher-macho?

Dalva levantou a vista e só então percebeu a presença do grupo de meninos.

Os olhos dela ficaram brilhantes.

Eu e as outras meninas achamos que ela iria chorar.

Ela disse assim:
- O que tu falou aí:

E o menino respondeu:

- Mulher-macho!

E os outro meninos começaram a rir!

Foi quando percebemos que o brilho no olhar dela não eram lágrimas. Era ódio!

Dalva era realmente muito castigada pela vida. E como disse Nietzsche, “Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro”. 

Ela não era mais uma simples menininha...

Dalva não contou conversa! Catou o garoto pelo braço e, usando um termo lá de Santana, “comeu ele na porrada”!!!

Ficamos todos pa-ra-li-sa-dos! Meninas e meninos!

Ela não foi sequer para a diretoria, pois o garoto era reincidente e acredito que a diretora não aguentava mais reclamações dele, deve ter dado graças a Deus que alguém deu um jeito naquela fera.

Voltamos para a sala de aula. Dalva estava como se nada de anormal tivesse acontecido. E nós, como se tudo, tudo de mais diferente na vida fosse possível.

Desde aquele dia a vida de cada menina naquela sala ganhou um novo significado graças a Dalva.

O filho de Lúcifer ainda tentou correr atrás de mim novamente, mas Dalva viu, rsrsrsr, pow, eu nunca fui a favor de violência, mas foi revigorante ver a Dalva batendo nele e dizendo para ele nunca mais se aproximar de mim sem a minha permissão!

Ela soube o que nós passávamos nas mãos deles e sabia a gratidão que tínhamos a ela.

Desde então o ciclo se rompeu.

Dalva repetiu de ano novamente. A mãe a espancou mais uma vez. E a tirou da escola.

Não, ela não estudou e virou uma juíza ou uma mega empresária rica. Porque as histórias reais são diferentes da ficção.

A família dela passava na frente da casa de minha mãe todos os dias empurrando um carrinho de ferro. Lembro de ver sua vó, sua mãe e seu tio. 
Mas não a via mais. 
Tinha medo de sua mãe ter exagerado nas surras e ter feito alguma coisa irreversível com ela... Não sei. Torço para ela ter fugido de casa para bem longe. De ter construído uma outra vida.

Essas são as faces de Dalva e o que o garoto quis dizer com o “mulher-macho”, é que ela parecia uma sapatão, uma caminhoneira como diz minha amiga Ianna.  
Para a mãe dela, ela era um peso, um estorvo, talvez uma maldição.

Para nós, as meninas suas amigas, ela foi nossa defensora, nossa protetora  e a força para vencer um mundo machista e hostil ao qual fomos expostas ainda tão crianças.

Para mim ela era a força, a garra e a beleza! Dalva era bonita. Era forte. Carregava tudo sozinha. E seus cabelos curtos eram revolucionários. 

Mas olhando para ela com meus olhos de hoje, de uma mulher adulta, Dalva era somente uma menininha de 8 anos, assustada, sozinha, que encontrou na sua turma de 1ª série o acolhimento e a admiração que não conhecia.

A ela, toda a minha gratidão.


Esta é Dalva, vista pelos meus olhos, no espelho de mim.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

PEC 241 ou PEC Ei, senta aqui!

E hoje é dia de Tequila e de Política!!

Coloque o sal na boca!

E como não poderia deixar de ser, hoje falaremos do assunto do momento : A volta do casal Fátima Bernardes e William Bonner! (Eles voltaram mesmo?) Claro que é sacanagem né!!

O assunto desta quinta-feira será a indigesta PEC 241, a qual eu apelidei carinhosamente de PEC Ei, senta aqui! 

Eu escolhi esse nome porque dentro de mim tem alguma coisa um pouco romântica, porque se eu fosse mais carnal, chamaria de PEC Meu amor só a cabecinha!!

Mas o que me permite viajar nos apelidos é que a PEC 241 é filha de chocadeira! Isso mesmo, a coitada não tem pai nem mãe! Quando você procura o autor da Emenda, está lá: Legislativo. 
Por que será que ninguém quis o seu nome associado a uma emenda tão revolucionária e que promete melhorar tanto a vida dos brasileiros? No mínimo inexplicável...

Na minha criatividade infinita, imagino que se a PEC fosse filha de algum dos lados de extremo conservadorismo, poderia ser apelidada de PEC Se ajeite que hoje vou lhe usar...

Bem, brincadeiras à parte, a PEC Ei, senta aqui! possui o nome científico de PEC do teto dos gastos do Governo.

Parece bonito, não é? O Governo tentando reduzir os gastos! Que maravilha!
Eu que moro em Brasília e vejo um carro oficial escrito “Senador da República” comprado com dinheiro público, com motorista particular pago com dinheiro público, abastecido com dinheiro público, estacionado no supermercado em pleno dia de semana e horário comercial, ao saber de uma PEC com o bonito nome de Teto dos gastos do Governo, dou tchauzinho para esse carro, cheia de esperanças de um futuro melhor.

Acontece que resolvi ler essa bendita PEC.
Não, eu não sou a diferentona! Não sou a visionária que leu a PEC antes de todo mundo!

Eu tenho um professor que é funcionário do IPEA e ele estava fazendo um estudo sobre os impactos dessa PEC na vida do brasileiro nos próximos 20 anos e comentou sobre a catástrofe que se aproximava e eu resolvi falar sobre a PEC no Blog. Só que era fundamental falar das eleições Municipais e do Legislativo primeiro.

Este texto está um pouco desvirtuado do objetivo do Blog, que é falar de política sem fazer politicagem. Eu estou tentando ser imparcial, mas realmente não consigo ver uma maneira de defender as mudanças propostas na emenda. Não encontro argumentos. Não consigo oferecer dois lados para análise.

Precisamos sim cortar gastos. Sempre é preciso. A todo momento ajustes são necessários. Mas o que justificaria congelar gastos em áreas fundamentais como saúde e educação? 
Que país estamos querendo construir? Que futuro almejamos?

Sim, como diz o ditado, “há males que vem para bem” e vimos no Brasil, com a aprovação da PEC na Câmara, uma mobilização nacional, principalmente da juventude e presenciamos algo que até pode parecer um pequeno ensaio de uma “Primavera Brasileira”. 
Várias vozes, tratando sim de um mesmo tema, dizendo: Sim, eu quero discutir política! Sim, isso é comigo! Não, não mexa em meus direitos! Não, eu não sou comunista, mas o caminho não é esse!

Resumindo a PEC 241, na linguagem de papagaio que prometi usar no Blog, o que ela prevê é o congelamento dos investimentos do governo em Educação, Saúde e Programas Sociais por 20 anos. Também limita os gastos com salários. O texto permite algumas exceções em situações específicas, entre elas os gastos da justiça eleitoral em períodos de eleição... Os detalhes da PEC eu transcrevi no final do texto, vale a pena ler.
Nesse momento, não se trata de esquerda ou direita, de a favor ou contra. São 20 anos. 20 anos!

Em 2017 concluirei minha segunda graduação. Este mês defenderei meu TCC de mais uma pós-graduação. Logo, a falta de investimento em educação não me afetará mais tão diretamente, visto que já avancei muito em minha carreira acadêmica.
Tenho plano de saúde e a falta de investimento em saúde pública não me afeta. Sou concursada, mas meu reajuste salarial é decidido em dissídio da categoria e não está atrelado aos gastos da PEC. 
Então, o que eu tenho a ver com isso?
A resposta deveria ser, de um ponto de vista mesquinho, ilógico e egoísta: nada!
Mas sabe um negócio chamado cidadania? Então, é algo que nosso Legislativo deveria ter e defender.
Sou brasileira. Quero o meu país forte. Quero o seu crescimento.
Tenho família, tenho amigos, tenho conhecidos, tenho dignidade e tenho consciência.
Não existe crescimento sem investimento. Precisamos de educação!
Não existe paz de espírito sem saúde em dia. Não existe equilíbrio sem condição de vida. 
Estamos no Outubro rosa. Não mudei minha foto de perfil nas redes sociais para apoiar a luta contra o câncer. Mas não existirá mais luta se não existirem investimentos em saúde. 
Essa deve ser a nossa luta! Essa é a minha luta.

Algumas pessoas bateram panela. Sabiam o que estavam fazendo. Eu as apoio por isso.
Algumas pessoas foram para as ruas pedir a retirada do governo. Sabiam pelo quê estavam lutando. Eu as apoio por isso.
Qualquer luta é válida, desde que você entenda pelo quê está lutando.

Se alguém foi contra o governo anterior isso não dá carta branca para aceitar do novo governo todas as suas atitudes. A vontade do povo deve ser soberana. Devemos lutar sempre que sentirmos nossos direitos violados.

Eu não tenho interesses particulares afetados pela PEC Ei, senta aqui! Mas não consigo vislumbrar esse futuro prometido com os moldes desse ajuste fiscal.

Detestei este texto. Detestei ficar sem opção de escolha. Estamos em uma democracia, não gosto dessa falta de possibilidades. Sinto-me encurralada.

Acusam ao brasileiro de não ter memória. Certo, mas hoje nós temos a internet para nos ajudar!

Verifique em seu Estado qual foi o posicionamento de seus deputados. Identifique o posicionamento dos partidos deles. Anote os resultados!

Dizem que a política é um jogo. E ela é sim! E 2018 tem Copa!

Veja quem são os políticos que estão do lado da cidadania e do crescimento do país. Veja os que jogam contra.

Em 2018 o tabuleiro inverte. Recordem que NÃO estamos falando somente do Executivo!!! Já falamos da importância do Legislativo aqui no Blog. E foram eles que aprovaram a PEC 241 e é o nome deles e dos partidos que estão anotados nos cadernos, lembram?

Com o tabuleiro invertido, é o NOSSO momento de inverter o resultado!!
Como disse um poeta louco em um reino muito distante...”Hoje você é quem manda...Mas... amanhã, vai ser outro dia!”

E aí, vai querer perder de 7x1 de novo???

Chupe o limão por 20 anos!

Recortes do que fala a PEC Ei, senta aqui!

Art. 102. Será fixado, para cada exercício, limite individualizado para a despesa primária total do Poder Executivo, do Poder Judiciário, do Poder Legislativo, inclusive o Tribunal de Contas da União, do Ministério Público da União e da Defensoria Pública da União.

Fixado gastos, leia-se NÃO HAVERÁ INVESTIMENTOS em 20 anos ,apenas atualizados pelo IPCA (a inflação do exercício anterior)
Junto com isso, tem também outras coisas que vou copiar e colar aqui e acredito não ter necessidade de explicação.

“Art. 103. No caso de descumprimento do limite de que trata o caput do art. 102 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, aplicam-se, no exercício seguinte, ao Poder ou ao órgão que descumpriu o limite, vedações:

 I - à concessão, a qualquer título, de vantagem, aumento, reajuste ou adequação de remuneração de servidores públicos, inclusive do previsto no inciso X do caput do art. 37 da Constituição, exceto os derivados de sentença judicial ou de determinação legal decorrente de atos anteriores à entrada em vigor da Emenda Constitucional que instituiu o Novo Regime Fiscal;

II - à criação de cargo, emprego ou função que implique aumento de despesa;

III - à alteração de estrutura de carreira que implique aumento de despesa;

IV - à admissão ou à contratação de pessoal, a qualquer título, ressalvadas as reposições de cargos de chefia e de direção que não acarretem aumento de despesa e aquelas decorrentes de vacâncias de cargos efetivos; e

 V - à realização de concurso público.

Recortes do Ofício do Ministério da Fazenda sobre a PEC 241 ao Presidente da República. ( Acompanha o texto da PEC)

8. Com vistas a aprimorar as instituições fiscais brasileiras, propomos a criação de um limite para o crescimento das despesas primária total do governo central. Dentre outros benefícios, a implementação dessa medida: aumentará previsibilidade da política macroeconômica e fortalecerá a confiança dos agentes; eliminará a tendência de crescimento real do gasto público, sem impedir que se altere a sua composição; e reduzirá o risco-país e, assim, abrirá espaço para redução estrutural das taxas de juros. Numa perspectiva social, a implementação dessa medida alavancará a capacidade da economia de gerar empregos e renda, bem como estimulará a aplicação mais eficiente dos recursos públicos. Contribuirá, portanto, para melhorar da qualidade de vida dos cidadãos e cidadãs brasileiro. (Achei meigo a preocupação com a qualidade de vida do brasileiro)

26. Essas são as razões da relevância da proposta de Emenda Constitucional que submetemos à apreciação de Vossa Excelência.
Respeitosamente,
Assinado eletronicamente por: Henrique de Campos Meirelles, Dyogo Henrique de Oliveira

Os grifos são meus.