terça-feira, 27 de setembro de 2016

O Santo que fugiu de casa - Parte V

Dona Nicinha se fechou no quarto.
Fechou-se para a vida.
Apagou-se para o mundo.
Até o prefeito ficou preocupado com a esposa. Ele que mal a notava, percebeu que havia algo de muito estranho.
- Maria Cândida, o que sua mãe tem? Ela tá doente?
- Ela tá triste.
- Por quê? Morreu alguém?
- O santo dela fugiu de casa.
- O quê? O que você tá falando, menina?
- O santo dela, o Benedito, foi embora de casa.
Seu Belchior era bem mais cético que dona Nicinha e a possibilidade de Candinha ser desmascarada era latente. Sabendo disso, ela resolveu dar um ponto final na conversa:
- Ah pai, vai lá e pergunta pra ela.
E saiu em seguida para o seu quarto, deixando o pai sozinho na sala.
Seu Belchior foi até o quarto. Estava tudo escuro. A esposa lá, deitada e coberta, apesar do calor.
- Eunice, o que você tem?
- Nada. Apaga essa luz.
- Você já jantou?
- Estou sem fome. Depois eu como.
Estava quase na hora de seu Belchior ir para o seu carteado, mas a figura da esposa ali deitada com aquele olhar perdido lhe cortou o coração.
- Nicinha.
- O que é?
- Vamos dar uma volta na rua? Está uma noite estralada, bem bonita. Vamos?


Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário