sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Espelho de Mim

Quebrando o protocolo, resolvi lançar o quadro Espelho de Mim antes do previsto, para fazer um carinho a duas amigas especiais que estão passando por um momento difícil com sua mãezinha. 
Meninas, recebam meu abraço, em forma de palavras.



Duas irmãs maluquinhas

(Com carinho para Adelaide Feitosa e Maria José)

Quem as vê hoje, como empresárias de sucesso, não imagina o caminho que trilharam.
Conheci as duas ao mesmo tempo, sim elas andavam sempre juntas. Durante muito tempo até achei que fossem uma só pessoa, tipo Zezé de Camargo & Luciano e Chitãozinho & Xororó!
Minha irmã Alcibele era cliente delas. Minha irmã ainda trabalhava no Colégio Amazonas. Lembro nitidamente do dia que as conheci. Elas andavam de carro, levando roupas na sacola para vender.
Eu não sabia pra qual das duas olhava. Eram uma mais engraçada que a outra! Maria José tinha um sotaque diferente e Adelaide falava como uma rapidez que me deixava atônita. Tudo que elas falavam era engraçado. Eu ria o tempo inteiro. Falei pra minha irmã: 
- Como elas são doidas né!?
Doidice maior foi a Maria José abrir crédito pra mim! Eu não tinha nem 15 anos!! Minha única renda era o troco da compra do mês no supermercado, que eu ficava pra mim. (Minha mãe pensava que se deixasse duas peças de roupa dentro do armário e apagasse a luz elas iam procriar! Não me dava dinheiro pra nadinha! )
Mas mesmo lisa, eu tinha um nome na caderneta! Não tinha nem CPF! Pense numa coragem!
Honrei meus pagamentos como minha vida! Não podia decepcionar uma pessoa que me deu tanta credibilidade!
Esperava pelo momento de pagar minha conta com ansiedade. Eram minutos de conversa que não tinham preço.
Um dia Maria José contou que um de seus parentes tinha uma lanchonete. E pediu que ela ficasse no balcão enquanto ia resolver alguma coisa. Ela ficou.
Chegou um cliente e pediu uma fanta uva “para levar”. Nessa época só tinha refrigerante em embalagem de vidro, aí “para levar”, significava colocar o líquido dentro de um saco plástico com um canudinho.
Ela pegou, colocou o refrigerante no saco, colocou o canudo e deu uma chupada nele e entregou pra pessoa. Kkkkkkkkkkkkkkkkkk... 
Pode isso Arnaldo? 
Ela pensou que estava na casa dela, colocando refrigerante para alguém da família!
Ela disse que a pobre da cliente ficou olhando assustada, mas não falou nada e ela nem se tocou também. Aí, bem depois que a mulher pagou e foi embora é que ela se deu conta do que tinha feito!
Eu não sei se depois disso o parente dela teve que fechar a lanchonete...rsrs... Mas essa é a Maria José.
Com 19 anos saí de Santana, quando retornei a primeira vez, se passavam 5 anos. Eis que me deparo com uma loja gigante na Avenida Santana, JUMBINHA. Pergunto à minha irmã o que se tratava e ela me conta, que aquelas duas meninas (para mim, por meus olhos, serão sempre meninas), Adelaide e Maria José haviam aberto a loja.
Claro que eu fiz questão de parar lá. Reencontrei Maria José, dei muitas risadas e abri um crédito na loja!! Rsrsr... 
Eu, morando em São Paulo, abri um crédito em Santana!! Essa Maria José não muda!
Eu torço pelo sucesso delas, como torceria por alguém de minha família, pois acompanhei o início incansável dessas duas batalhadoras.

Hoje quem as vê reinando no comércio Amapaense, sentadas numa loja com ar condicionado, não imagina o sol que já tomaram, o calor que passaram e a poeira que comeram levando beleza e alegria para jovens, que como eu, tinham tão pouco a retribuir.

Não amigos, elas não tem sorte! Definitivamente elas são fruto da luta dura de duas mulheres guerreiras que vieram do interior e nunca se curvaram pras dificuldades. E o lugar que elas ocupam hoje foi construído tijolo a tijolo a custa de muito esforço!
Menos o lugar no meu coração, pois este foi facinho de ganharem!

Adelaide e Maria José, minhas meninas queridas, meu carinho é para vocês!


Lindas, lutadoras e vencedoras, vistas pelos meus olhos, no Espelho de Mim!

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Tequila com Política






Eleições 2016
Saudações!

Vamos explicar a escolha do nome!
Primeiro, chega de café pra tudo né! Uma bebidinha quente numa quinta-feira ajuda a iluminar a antessala do fim de semana!
A tequila é originária do México, ela é bebida junto com limão e sal e isso não é à toa. Tem uma explicação.
O sal, ingerido antes da bebida, serve para abrir as papilas gustativas, o que deixa o sabor da tequila mais apurado.
Na sequência, você chupa o limão, que possui o efeito contrário, fechando as papilas e fixando o gosto da tequila no seu paladar.
É esse o objetivo do quadro Tequila com Política, abrir as “papilas políticas”, conhecer ou relembrar os conceitos e fixá-los à nossa vida.
Inicialmente, esclareço que o objetivo não é construir um artigo científico semanal! Isso vocês já encontrarão aos montes na internet.
O objetivo do Tequila com Política é falar em uma linguagem clara, aproximando a política da população comum, e para isso é necessário falar uma outra língua, a língua do povo, a língua das ruas, a língua do dia a dia, que é o que tentaremos fazer aqui!
Acompanhando o quadro Tequila com Política às quintas-feiras, vocês não virarão cientistas políticos (ahhhhhhh),  mas terão muito mais familiaridade com temas e assuntos que envolvem diretamente a vida de cada um de nós.
Pode ingerir o sal, que vamos começar!

Um brinde!!!

O tema do Tequila com Política de hoje é as eleições que acontecerão esse fim de semana nos Munícipios Brasileiros.
Apesar de não termos eleições aqui no DF, onde moro, trata-se de um tema muito relevante, por conta das últimas alterações ocorridas em 2015 com a minirreforma política.
A alteração diz respeito à forma de eleição dos vereadores. Cabe aqui um adendo:
O legislativo é algo fundamental em um sistema como o Brasileiro. Ocorre, que muitos de nós, no caso das eleições municipais, escolhemos vereador por proximidade, familiaridade, amizade e não por suas propostas políticas e a ideologia de seu partido.
O voto deveria ser baseado nas plataformas do Partido Político e principalmente nas propostas de atuação do candidato.
Se você já fez a sua escolha consciente, ótimo! Vá lá na sua zona eleitoral domingo, digite o número de seu vereador e confirme!

O ALERTA é para quem pretende votar somente na legenda.
Por conta das alterações feitas em 2015, a fórmula do quociente eleitoral (não é coeficiente viu!) permanece, o que muda é que CADA CANDIDATO DEVE TER 10% DO QUOCIENTE ELEITORAL EM NÚMERO DE VOTOS!
Como faz esse cálculo?
Pra quê?   (Se realmente alguém quiser é só pedir que a gente coloca)
O objetivo aqui é outro, é dizer que mesmo sem saber fazer o cálculo, se você tem um partido de coração ou uma ideologia política representada por algum partido, ESCOLHA UM CANDIDATO A VEREADOR, pois somente o seu voto na legenda do partido pode não irá garantir cadeiras para ele na Câmara Municipal.
Se nenhum dos candidatos do partido tiver 10% de votos, mesmo com direito a cadeiras na Câmara Municipal, o partido não emplacará NENHUM VEREADOR.

Então o recado é, consulte, avalie, decida e vote!

Pode chupar o limão!


Gratidão.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

O Santo que fugiu de casa – Final

Uma semana depois eles retornaram da viagem.
Os dois estavam transformados, eram só sorrisos.
Além do café, faziam questão de jantar todos os dias juntos. Seu Belchior até andou cozinhando.
Noca e Candinha também estavam contagiadas por eles. O ambiente na casa era outro. Muita luz, muita alegria e muitas risadas. Seu Belchior estava muito mais próximo da filha também. Era um outro homem. Nunca mais havia ido aos carteados.
Tudo ia bem, até que Candinha, um dia, passando por perto do oratório notou um envelope. Ficou estupefata!
O que seria aquilo? Seria um castigo? Seria Benedito entregando toda a armação?
Ela pegou a carta num supetão e correu para o quarto. Trancou a porta, sentou na cama e começou a ler a carta.
Não era a letra de Benedito! Quer dizer, não era a letra DELA.
Então de quem seria aquela letra? Quem mandou aquela carta?
Só lendo para saber. E foi o que ela fez.

Carta:
Meu amado Benedito, (creio que já tenho intimidade para chamá-lo assim! Desde os meus 13 anos estamos juntos!)
Primeiro quero pedir desculpas por todo o mal que eu possa ter lhe causado.
Peço perdão também pelo meu egoísmo em mantê-lo preso no oratório como se somente eu precisasse de seu socorro.
Mas o que eu quero mesmo é agradecer. Conforme você me prometeu em sua carta, não se esqueceu de minhas preces e atendeu meus pedidos: Meu marido é um novo homem! Tenho de volta meu casamento e minha felicidade do início da vida!
Obrigada meu santo! Onde você estiver!
Sua filha fiel e agradecida,
Eunice

Candinha ficou estupefata! Então ela tinha feito um milagre!?
Talvez um dia tivesse um oratório pra ela também! 
Santa Maria Cândida!!! Que liiindoooo!!!!
Ela guardou a carta, pegou a imagem quebrada do santo e enterrou os dois no jardim, ao lado da roseira mais bonita!
Para Candinha ela foi a protagonista de um verdadeiro milagre.
Para Nicinha o milagre foi de Benedito, seu neguinho que nunca lhe deixou na mão!
Para Benedito foram as mãos de Deus, afinal é ele o todo poderoso que zela por seus filhos!
Para Deus, que sabe de tudo, não houve milagre. Foi apenas o amor, que mesmo adormecido não morre e tem a capacidade de se reinventar, desde que também tenhamos a capacidade de olhar nos olhos do outro e nos permitir.
E para mim?
Bem, às vezes é preciso quebrar algumas imagens, algumas regras, alguns paradigmas. É preciso largar alguns vícios. Abandonar os jogos, desligar a televisão, sair um pouco da internet.
Sabe aquele dia perfeito? A ocasião ideal? O momento certo? Eles não existem. Somos nós que criamos e construímos o nosso ideal. Basta ter coragem de começar.
Liberte os santos! Levante os olhos! Vá ver o céu! Olhe nos olhos de quem está ao seu lado e procure neles aquela pessoa pela qual você se apaixonou.

Então, para mim o milagre foi de Noca, que tirou a rotina da órbita e começou toda essa confusão!!!

Fim


O Santo que fugiu de casa – Parte VI (Penúltimo Capítulo)

Dona Nicinha foi virando o rosto beeem lentamente... Mal acreditava no que estava ouvindo. Belchior só a chamava para eventos públicos.
Ele tocou em sua mão:
- Vamos, levanta. Vai se arrumar que vou esperar você lá na sala.
Dona Nicinha ficou tão surpresa com aquele convite inusitado que resolveu aceitá-lo.
Ela colocou um vestido florido, um colar de pérolas, um perfume de rosas e foi.
- Estou pronta.
Ele fixou os olhos no olhar dela. Fazia tempo que ele não reparava na esposa. Vida corrida, tantos compromissos, que ele se perguntou onde esteve todo esse tempo?
Ela ainda era a mesma menina por quem ele havia se apaixonado. Parecia que o tempo não havia passado para ela. Ou seriam os olhos dele que estavam diferentes?
- Vamos.
Ela deu-lhe os braços e eles saíram.
A noite realmente estava linda. Era lua nova, isso destacava ainda mais o brilho das estrelas.
Olharam aquele mesmo céu que olhavam quando se conheceram.
Conversaram sobre tantos assuntos, até os negócios da prefeitura ele comentou com ela.
Relembraram momentos, riram de memórias engraçadas, pareciam mais cômicas que antes.
De repente o silêncio. Eles olharam-se sem dizer mais nenhuma palavra e se beijaram. O rosto de Nicinha ficou corado. Parecia a primeira vez. Belchior também foi tocado. Parecia aquele menino de antes, nervoso com o primeiro beijo.
Ficaram abraçados em silêncio, até que Belchior quebrou aquele clima que havia se construído:
- Nossa, já são 10 horas!
Nicinha sentiu todo aquele céu desmoronar. Estava no horário de Belchior ir para o jogo rotineiro...
- Será que conseguimos arrumar as malas para viajar amanhã cedo?
Nicinha não acreditou no que ouviu:
- Viajar? Você vai viajar?
- Eu não, nós! Vamos Nicinha? A gente vai para um hotel fazenda. Passamos uma semana. Noca cuida de Candinha e a prefeitura não vai parar por conta de uma semana. Eu nunca tirei férias de verdade. Vamos? Eu acho que precisamos prolongar esse momento...
E Belchior deu novamente um beijo em Nicinha.
- Vamos. Vamos sim! Vamos logo pra casa começar a organizar as malas então.
- Vamos sim, até porque tem algumas coisas que quero organizar antes de mexer com as malas...
Ele sorriu com um ar maroto e deu uma piscadela.
Nicinha corou novamente! Mas retribuiu o sorriso malicioso de Belchior.
No dia seguinte, tomaram café, comunicaram a viagem repentina e partiram.

Continua...





terça-feira, 27 de setembro de 2016

O Santo que fugiu de casa - Parte V

Dona Nicinha se fechou no quarto.
Fechou-se para a vida.
Apagou-se para o mundo.
Até o prefeito ficou preocupado com a esposa. Ele que mal a notava, percebeu que havia algo de muito estranho.
- Maria Cândida, o que sua mãe tem? Ela tá doente?
- Ela tá triste.
- Por quê? Morreu alguém?
- O santo dela fugiu de casa.
- O quê? O que você tá falando, menina?
- O santo dela, o Benedito, foi embora de casa.
Seu Belchior era bem mais cético que dona Nicinha e a possibilidade de Candinha ser desmascarada era latente. Sabendo disso, ela resolveu dar um ponto final na conversa:
- Ah pai, vai lá e pergunta pra ela.
E saiu em seguida para o seu quarto, deixando o pai sozinho na sala.
Seu Belchior foi até o quarto. Estava tudo escuro. A esposa lá, deitada e coberta, apesar do calor.
- Eunice, o que você tem?
- Nada. Apaga essa luz.
- Você já jantou?
- Estou sem fome. Depois eu como.
Estava quase na hora de seu Belchior ir para o seu carteado, mas a figura da esposa ali deitada com aquele olhar perdido lhe cortou o coração.
- Nicinha.
- O que é?
- Vamos dar uma volta na rua? Está uma noite estralada, bem bonita. Vamos?


Continua...

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

O Santo que fugiu de casa - Parte IV

Carta

Estimada Dona Nicinha,
Desculpe-me.
Não me leve a mal, mas nossa relação já estava um tanto desgastada, e eu achei melhor partir.
(O coração de dona Nicinha quis parar, mas ela continuou a ler.)
Eu já conheço todos os seus pedidos, suas aflições e seus pecados. A senhora já estava muito repetitiva! Eu não preciso mais ouvir.
E tem mais, daí de cima dessa mesa, não tinha mais como eu pudesse lhe ajudar. Estou indo embora para ajudar outras pessoas que também precisam de mim.
Não esquecerei de seus pedidos. Estou indo resolvê-los. Tenha fé que vai dar tudo certo!
Fique em paz!
Ah, e apague essas velas, porque essa cidade já é quente, com essas velas acessas dentro de casa, não tem santo que aguente de calor!
Fui!
P.S – Não vou chorar, porque Santo não chora!

Dona Nicinha estava atônita. Quis sentir-se traída, mas tentava entender o que tinha dado em Benedito.
De repente, ela limpou as lágrimas, foi até o oratório vazio e apagou todas as velas, e então disse de forma rude:
- A partir de hoje estão todos proibidos de tocar no nome desse Santo fujão!!!



Continua...

O santo que fugiu de casa - Parte III

- O que vamos fazer Candinha? Eu não tenho dinheiro e aqui na cidade nem vende santo bonito igual o, o, o finado Benedito...
Chuva de lágrimas de novo!
- Noca, eu também não tenho dinheiro e aqui na cidade a gente realmente não iria encontrar um santo mesmo, mas eu tenho um plano!
- Que plano? Como?
- Olha Noca, a mamãe realmente acredita nos santos dela. Então a gente vai escrever uma carta do Benedito para ela! Dã!!!!!!
- Carta? Mas dizendo o quê?
- Que ele fugiu de casa!
- O quê????
- É isso mesmo que você ouviu! Que ele fugiu de casa! Deixa comigo, vou lá pro meu quarto escrever e quando a mamãe chegar já vai estar lá no oratório a carta do Santo fujão!
- Menina, isso não é pecado?
- E eu sei lá! Mas é só o que podemos fazer.
Candinha vai para o quarto e se debruça em cima de seu plano.
No final da tarde, dona Nicinha chega da cidade.
- Maria Cândida! Noca! Cheguei!
O coração de Noca para. Mas é despertado por um grito histérico:
- Meu Deus!!! Ladrão!!! Socoooorro!! Roubaram meu Santo!
Candinha chega correndo à sala!
- Calma mãe! Calma! Não tem ladrão não. Foi só uma fuga.
- Uma fuga?
- É. O Santo fugiu de casa, mas deixou uma carta para você. Toma!



Continua...

domingo, 25 de setembro de 2016

O santo que fugiu de casa - Parte II

Corpo para um lado, cabeça para outro! Era uma vez um Benedito!
E a cabeça ainda esfacelou-se em vários pedaços.
- Jesus! Maria! José! O que será de mim agora? Dona Nicinha quando souber que quebrei a cabeça do santo dela, vai arrancar a minha fora!!
Noca sentia como se fosse para o matadouro! Era o fim de sua vida. Dona Nicinha gostava demais daquele santo, ela estava frita, cozida e assada!!
Por sorte dona Nicinha estava fora, tinha ido para a cidade comprar alguns tecidos.
Noca juntou os cacos do pobre Benedito, enrolou em um jornal e guardou no armário da cozinha, na parte mais alta, atrás da lata de farinha.
A pobre mal conseguia terminar seus afazeres, de tanto que chorava.
Foi quando Maria Cândida chegou da escola. Deu um susto em Noca, como era costume seu fazer, e logo lhe deu um abraço.
Noca não se mexeu. Só fazia chorar.
- Noquinha, o que foi? Por que você tá chorando?
Candinha, como era chamada desde criança, era muito apegada à Noca. Cresceu sozinha com ela. Seu pai sempre fora, com suas atividades políticas e sua mãe dedicada às obras religiosas.
- Fo-o-o-o-i o Benedito.
Noca falou e logo voltou a chorar.
- Que Benedito, mulher? Quem é esse? E teu marido já?
-Menina, num fala “blasfêma”! Benedito é o santo! O neguinho de sua mãe!
Era assim que dona Nicinha se referia a ele.
- O que tem o santo?
- Eu quebrei ele...
E Noca desabou a chorar de novo.
Candinha abraçou Noca e disse:
- Calma Noquinha! Não fica assim não! Nós vamos dar um jeito!

Continua...





O santo que fugiu de casa - Parte I

Benedito sempre foi santo, desde que se entendeu por gente! Ou melhor, por santo.
Vivia em cima de um oratório, pousado em uma toalhinha de crochê, encardida pela poeira. Aos seus pés algumas flores, já sem cor, desbotadas pelo tempo. E ao seu lado velas. Muitas delas, acesas dia e noite.
Ele morava na casa do prefeito. Homem falante, bem relacionado, mas que tinha como vício passar as madrugadas jogando.
Dona Nicinha, sua esposa, supria as ausências do marido devotando seus santos. Entre eles, o seu protetor era Benedito.
Noca era quem cuidava da casa e também de Benedito. Tirava dele o pó da cidade e o peso dos pedidos de dona Nicinha.
Noca também tinha seus segredos com Benedito. Ela queria ter uma casa própria, todinha dela. E ela já tinha prometido a Benedito que se ele a ajudasse, teria um cômodo todinho pra ele na casa nova (por cômodo leia-se uma mesa!), e assim como na casa da patroa ela teria uma imagem dele para proteger e abençoar seu lar.
Um dia Noca amanheceu alegre, cantando, limpando a casa como se fosse algo muito divertido. Mas, como profetizava sua avó: “Alegria em casa de pobre é peia”!
Enquanto ela limpava o oratório, Benedito escapuliu de suas mãos, rodopiou pelo ar, ela inutilmente tentou segurá-lo. Ele girou umas três ou quatro vezes e se estatelou no chão!


Continua amanhã...

sábado, 24 de setembro de 2016

A cápsula do tempo

                                            


Chegou afinal o grande dia! 12 de Janeiro de 2160, o dia da abertura da tal cápsula do tempo que a vó Carmem sempre fala...
A mãe da vó dela trabalhou na Caixa e no ano de 2010, quando a Caixa fez 150 anos, eles escreveram mensagens para deixar para as futuras gerações que foram colocadas nessa cápsula, para serem abertas 150 anos depois.
A vó conta que chamavam ela de vó Pink. Era doidinha a bisa1...Ela fazia um monte de coisa ao mesmo tempo, e só coisa que não tinha nada a ver...fazia aula de gaita, dança do ventre, alemão, esgrima, brincava volei, corria, ufa! Só de falar eu já to cansada! Acho que ao invés de vó Pink deveria chamar vó Fôlego!
Ela também lia muito e gostava de escrever. Isso eu puxei dela! Aaaamo escrever!
Vovó fala que ela era alucinada assim por movimento, mas sempre foi muito equilibrada. Economizava tudo, até a luz. Não saía de um ambiente sem antes desligar todos os equipamentos eletrônicos e apagar as luzes. “Apagar as luzes”...não sei nem o que é isso...se bisa1 visse tudo hoje com sensor de presença para ligar e desligar ia ficar impressionada.
Eu vi uma foto dela, vó Carmem mostrou. Ela tava bem nova ainda, abraçada com a bisa Jú, mãe da vó Carmem. Toda tatuada! Eu disse que ela era maluquinha... Foi quando eu vi as mechas Pink no cabelo dela. Achei que era por isso o seu apelido, mas vó disse que foram uns amigos dela da Caixa de São Paulo que colocaram, por causa de uma moça de um programa de televisão que se chamava Pink e era doidona igual a ela.
A mãe da vó Carmem já era menos elétrica. Júlia, esse era o nome da bisa2. Para homenageá-la que minha mãe colocou o meu nome, mas Júlia Francisca? Será que era realmente uma homenagem ou ela tava querendo tirar sarro de mim?
Bem, voltando a falar da bisa Júlia, dizem que ela era elegantérrima. Alta, magra. Também, era estilista, quer o quê? Ela foi muito famosa na época dela. Era muito criativa e desenhava muito bem. É graças ao trabalho dela que temos esse apartamento e-nor-me hoje e nosso sítio de novela. Mamãe nega, diz que a vó Carmem tá ficando caduca, mas ela jura que tem uma grana aplicada no banco, que a vó Jú deixou e ensinou a mamãe a guardar também.
Ah, guardar...Pense numa mulherada econômica! Mamãe quando recebe separa logo o dinheiro para colocar na poupança. Meu pai diz que isso é tic de família de bancário. O engraçado é que de bancário na família só teve a bisa Pink...
Papai vive duro. Nunca tem dinheiro pra nada. Paga tudo com atraso. A mamãe fica com ódio. Mas ele nem liga, só faz rir. Diz que ela é que é anormal, econômica demais, neurótica por poupança, igual à mãe, a vó, a bisa a...a...todas as mulheres da família dela. Aí ela fica louca, diz que se não fosse pelo que aprendeu com elas nós estávamos morando debaixo da ponte, porque ele é um descontrolado, compulsivo, blá, blá, blá..aí ela entra no quarto, bate a porta e ele vai dormir no quarto de família ( de visitas ). Ainda bem que isso só acontece uma vez no mês, no dia do pagamento dele.  Incompatibilidade de gênios? Não, incompatibilidade de saldos...heheh
Eu também tenho conta! E sabe, até que não é ruim não. Quando eu viajei pra Londres, minha primeira viagem sozinha, Independência!!!!, Eu tinha um dinheiro bom guardado, deu pra trazer um monte de coisinha fofa de lá.
Sem falar na faculdade, que eu hei de passar! E que vai ser paga com o dinheiro da previdência que minha mãe fez quando eu nasci. Igual minha mãe teve, minha, vó, minha bisa...
Ai, mamãe já está estressada. A vó Carmem tá pronta desde 7h. Mas a programação na Caixa tá marcada pras 10h. Peenseee numa agonia! Coitada da vó, passou a vida inteira ouvindo falar disso, agüentou 92 anos esperando e agora não consegue esperar mais 3hs...
Eu vou lá.
- Ei mãe, relaxa, eu levo a vó.
- Que maravilha! Assim eu fico mais tranqüila. Tá ouvindo mãe? A Júlia vai levar você lá na Caixa.
- Que bom bebê, assim você vai ver o que a geração passada deixou de ensinamento pra gente e vai poder passar para as novas gerações também! Falando em novas gerações, cadê aquele seu namoradinho que vivia por aqui? Sumiu...
- MORREU! O André MORREU e eu já enterrei!
- Morreu de quê minha filha? Foi acidente?
- Júlia Francisca! Fala direito com sua avó! Fica falando essas coisas, ela pensa que é verdade.
- Foi mal vó, ele não morreu não, a gente terminou. Não quero mais saber dele. Homem ciumento já é duro de encarar, neurótico então, nem se fale!
- Mas você não tem mesmo sorte com os seus namorados não é minha filha...
- Credo vó! Fui eu que terminei! Tenho sorte sim. Se estou só é por opção.
- Opção dos homens...
- Mãe!!
- Calma filha, tô brincando...
- Jú, você ainda vai tomar banho?
- Claro né vó! Se bem que perto de uma coisa guardada há 150 anos, eu não devo estar assim tão fedida...rsrsrs
- Mas não demora minha filha! A gente já tá em cima da hora...                                       - Tá doida vó! Agora que são 8h30. Tá marcado pra começar às 10hs. Sabe o que você faz, pega aquele seu relógio de família, aquele relógio ZEN, que não marca as horas, e fica aí me esperando. Como é a poesia?
“Porque o tempo é uma invenção da morte:
   não o conhece a vida - a verdadeira -
   em que basta um momento de poesia
   para nos dar a eternidade inteira.”
- Mário Quintana... Todas as mulheres da família foram apaixonadas por ele...     
- Eu garanto que a gente vai chegar a tempo. Fica tranqui dona Carmem. Vou tomar banho. 

 - Pronto vozinha, vamos!

- Não Jú, aqui não, eu quero sentar mais pra frente.
- Tá dona Carmem, vamos mais pra frente...Tá bom assim?
- Agora tá. Eu não enxergo muito bem de longe...
- Nem de perto...
- Jú!
- Psiu! Não dá “enxame” vó!
- Ei vó, sem dar mancada, tem um carinha sentado ali do lado esquerdo, de gravata e camisa amarelo clarinha...
- Uniforme de bancário!
- Quê?
- Uniforme de bancário. Camisa de manga comprida e gravata, sem o paletó. Todo bancário se veste assim e isso eu acho que é mais velho que a cápsula...rsrrs
- Rsrsrsr...Então vó, disfarça e olha, porque eu acho que ele não tira o olho daqui.
- Rsrsrrs...É mesmo. E não deve ser pra mim que ele tá olhando...
- Rsrsrsrr
- Olha pra ele! Dá um sorriso pelo menos. Simpatia não faz mal a ninguém e cumprimentos fazem parte da vida em sociedade...
- Eu não! Nem conheço...
- E nem vai conhecer pelo jeito...
- Pára vó! Pronto, já vai começar.

Geeenten, to me sentindo num filme! Abertura da Cápsula! Será que vai sair um ET ou um sapo dançante? Rsrsr
Começaram a ler as mensagens... Eita! 150 anos pra abrir e mais 150 anos pra terminar de ler...
- Ei vó, isso num acaba não?
- Psiu! Fica quieta e deixa de ser implicante... É ela, é ela! A vó Pink! Vão ler a mensagem dela!

- “Não poupe!”

Ca-raaa-ca! Até o cara que leu a mensagem ficou sem jeito. Eu sabia que minha bisa1 era doida, mas maluca? Como é que ela trabalha no banco da poupança e deixa pras futuras gerações uma frase dessas! Coitada da vó Carmem, tá como uma cara de paisagem... Peraí, ainda tem mais, ai ai ai, o que será que essa maluca escreveu mais...

-“Não SE poupe! Não SE economize. VIVA! Não poupe sorrisos. Não poupe lágrimas. Não poupe elogios. Não poupe perdões. Não poupe beijos. Não poupe abraços. Não poupe palavras. Não poupe o dia, não poupe a noite. Não poupe o tempo. Seja feliz! O que sobrar, você guarda na CAIXA! Nós só aceitamos guardar o seu dinheiro, o resto, queremos que você use. Gaste! Gaste muito! Gaste energia! Gaste a vida! Não se preocupe com seu saldo. O da sua poupança aumenta mensalmente quando são creditados juros e correção monetária. Mas o da sua vida, esse é diário! É atualizado todas as manhãs quando você abre os olhos e um dia inteiro lhe espera e esse sol maravilhoso lhe diz: Venha! E à noite ao deitar você diz baixinho, HOJE EU VIVI!” De uma mulher que não poupou.

Geenteee, que lindo! Até me arrepiei... tá todo mundo emocionado. Eu vou fazer uma camiseta pra mim”Sou da família da mulher que não poupou”! Como minha bisa era sensível! Nunca vi a vó Carmem tão emocionada... É, dessa vez até eu chorei...

- Bora vó? Agora acabou né?
- Vamos. Você gostou?
- Se eu gostei? A bisa Pink era mor fofa! Muito lindo! Valeu vó, obrigada por esse momento... Hi vó, chora não... Pára vai... Vem cá, me dá um abraço... Pronto, agora vamos.
 - Vó! vó! Peraí só um pouquinho...

Resolvi me gastar...
Mexendo no cabelo com displicência, virando o corpo beeem devagar e com elegância e... Pronto! Gatinho de camisa amarela e gravata, aí vai um sorriso! Yes! Ele retribuiu! Meu saldo diminuiu, menos um sorriso... Mas quem sabe outro não aumenta... Mais um pretendente? Hehehehe... Só espero que essa história não demore mais 150 anos...

- Vamos vózinha, vem. Eu te amo viu?
- Eu também te amo minha filha!
- Não se poupe vó!
- Não se poupe Júlia Francisca!
- Ê vó, me poupe!!!
- Rsrsrsrsr...
- Rsrsrrsr...

Esse texto foi escrito para um concurso de contos dos empregados da Caixa Econômica Federal, cujo tema era Poupança.












quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Primavera

Eu nasci em Macapá. Nasci planta, mais galho do que folha. Era menina franzina, braços finos e pernas grossas. Vivi em Macapá até virar árvore, então parti.
Em São Paulo dei fruto. Uma linda mudinha que é minha grande companheira.
Fui pra Belém do Pará, pra ficar mais perto de casa, pois os meus ainda moram até hoje no Amapá. Em Belém vivi o meu outono... Perdi as folhas, perdi as cores, perdi meu vaso, meu chão e minha terra.
Hoje em Brasília, floresci novamente. Apesar da seca que assola a capital do país, eu sigo florida! E hoje, no início oficial da primavera no Brasil, para celebrar as flores, celebrar a beleza e a força interna que temos, eu lanço meu Blog, Mochileira das Palavras.
Nele publicarei crônicas, textos, poesias, e alguns “espelhos”, poemas destinados a pessoas conhecidas, vistas através da moldura especial de meus olhos. Os espelhos serão pequenas homenagens aos amigos, por meio da delicadeza das palavras e da magia da arte! Todo dia 15 de cada mês sairá um Espelho de Mim!
O Blog será atualizado semanalmente. E ele, mais do que um campo para expor minha arte, será um espaço de interação, onde poderemos trocar ideias, contar piadas, trocar receitas, o que vocês quiserem!
As quintas, teremos uma programação especial: Tequila com Política!(Para quem não bebe podemos substituir a tequila por água com gás!)
Será um momento para falarmos de política. Não de politicagem, de partidos ou de candidatos, mas da política mesmo, algo para a qual muitos viram o pescoço, mas que é fundamental entendermos o funcionamento, tanto para conhecer nossos direitos, para bater um papo gostoso no boteco ou simplesmente impressionar o candidato a crush que pensava que você fosse só um rostinho bonito!
Que viva a Primavera! Viva o renascer! Viva a vida e a nossa capacidade de reconstrução, apesar do frio, apesar da seca e das adversidades.